segunda-feira, 23 de maio de 2011

cegueira, um ensaio

Ganhei na páscoa o livro Cegueira, um ensaio de minha queridíssima mãe. O livro é bem lindo mesmo, e conta nas palavras de Fernando Meirelles todo o processo por trás das câmeras do filme  Ensaio sobre a cegueira. Há fotos maravilhosas dos bastidores, assim como depoimentos da equipe e de José Saramago. Contém também o roteiro do longa mentragem.
Fernando Meirelles tem algumas frases lindíssimas! É uma delícia de ler, porque parece que estamos muito mais do que apenas conhecendo o processo de um filme. Pode até soar piegas o que vou dizer, mas na verdade é uma lição para aqueles que irão trabalhar com cinema, e muito além disso, é uma bela lição de vida para qualquer um.
Por isso, vou  reservar alguns posts para algumas das frases mais legais que eu for encontrando.


 a capa do livro


Estas são para os os FUTUROS CINEASTAS, assim como eu:

"TORONTO, SETEMBRO DE 2007
SOBRE FILMAGEM AL DENTE

De cozinha, sei apenas o básico para não passar vexame, mas sei que, para se preparar um bom linguini ao pesto, tudo tem de ser feito na hora. Assim são também as cenas emocionais, não se pode ensaiar muito antes de rodar, para manter vivo o perfume do manjericão e a emoção al dente.
Antes dessas cenas só fazemos um blocking, como chamam aqui no Canadá, passamos mecanicamente os movimentos dos atores para colocar todo mundo na posição certa: câmera, luzes, o azeite, a figuração, liquidificador, nozes, escorredor. Você sabe. Com tudo na pia, pede-se silêncio, roda-se o som, joga-se a massa na água fervendo e a cena tem de acontecer naqueles oito ou onze minutos, dependendo do tipo da massa. E esse é o primeiro problema: alguns atores chegam ao ponto certo nas primeiras duas ou três tomadas, outros precisam de umas sete ou oito e há quem goste de rodar até 15, 16 vezes a cena. Filmar uma cena com atores com tempos diferentes de aquecimento é como ter de cozinhar ravióli e fusili na mesma panela para serem servidos ao mesmo tempo."

Para os contexualizar, Meirelles explica nas páginas seguintes que foi justamente isso que ocorreu durante a gravação. Julianne Moore teria de filmar uma cena em que corre aos prantos após presenciar o estupro de algumas mulheres e matar dois estupradores. A atriz respirava fundo para se concentrar. Começou a chorar, e depois a chorar compulsivamente. Pediu para gravar imediatamente. A equipe ainda não estava pronta mas mesmo assim começaram a rodar. Então ela veio correndo, deixando toda a emoção aflorar, e pegou  Mark Ruffalo de surpresa. Ele acabou respondendo no mesmo tom dela, como diz Meirelles: "num tom lá em cima". Depois, o diretor pediu para que repetissem a cena num tom mais baixo.

"Julie nem me respondeu. Concordou com um gesto de cabeça e um sorriso técnico, voltando para a primeira posição, disse apenas: "Vamos rodar já, por favor". Emoção é coisa viva, fugaz. Uma hora está lá, sólida, pode até ser enrolada num garfo e mastigada, mas no instante seguinte, pode se evaporar. Julie tentava não se dispersar, para manter sólida essa coisa. Algumas reações de figurantes precisavam ser corrigidas, o Guilherme veio me dizer que a bateria do microfone dela tinha de ser substituída e eu queria conversar com Mark, mas tive apenas tempo de lhe pedir que não pegasse carona no tom da Julianne. O som a gente resolveria depois. Sabia que se ficasse cozinhando essa cena por mais cinco minutos alguma coisa se perderia para sempre.
Rodamos então a segunda tomada. Uma terceira e uma quarta.
(...)
Meia hora depois da primeira tomada tudo já estava mais técnico, mais preciso, e menos vivo.
(...)
Na sala de montagem, com o Daniel, vimos que o ideal seria usar a quarta tomada da Julie, ainda quente e menos descontrolada e a oitava do Mark. O Daniel vai ter de montar partes de falas rodadas em momentos diferentes e sem um dos microfones, talvez tenhamos de assumir alguma descontinuidade na figuração, mas isso faz parte. Fora isso, a cena está linda. O que importa está lá."

As frases entre aspas foram escritas por Fernando Meirelles no livro.


Julianne Moore e Mark Ruffalo

Bonito né??

site da editora pra quem se interessar: http://www.editoramasterbooks.com.br/lancamentos-infoensaio.php

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Exit Through the Gift Shop

Olá!
Hoje venho com uma Bela - com B maiúsculo! - indicação!
Semana passada tive que fazer um trabalho para a disciplina de História da Arte com base em um filme. Foi a melhor surpresa que tive em algum tempo.
Na minha opinião, Exit Through the Gift Shop é genial!
O filme é dirigido por Banksy - aquele famoso artista de rua, que nunca se identifica publicamente - e narra a história de Thierry Guetta. Thierry é pirado (!) e tem uma mania de registrar tudo com sua câmera filmadora. Até que um dia decide filmar seu primo, Space Invader, fazendo sua Street Art. A partir dai ele vai cada vez mais se misturando com este mundo clandestino, e num belo dia, lhe surge a oportunidade de ficar cara a cara com Banksy, o artista de Street Art mais idolatrado no mundo.
Alguns duvidam da veracidade do documentário, dizendo que ele é muito bem estruturado, extremamente engraçado, muito bem articulado pra ser verdade. Pode ser até que seja tudo uma farsa, mas mesmo se for ele ainda assim é genial. O fato de ser ou não ser real não lhe tira a validade, já que o documentário extravasa a sua duração, pois traz ao espectador alguns questionamentos como: (nas palavras da Isa) o que é arte nos meios atuais? Como a arte ganha o status de 'arte'?  O que se faz a partir da arte? e como ela pode repercutir?
Traz até mesmo de volta aquele antigo questionamento, surgido com A Bruxa de Blair, se devemos ou não devemos, se temos ou não temos o direito de mostrar ao público fatos não reais como se fossem verídicos.



Trailer (que não faz jus ao filme!):



Primeira parte do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=Ixi2uKBK_v8&feature=related

É isso aí!