quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vou acender uma vela.

Dá-lhe vida, dá-lhe roda. Que roda, roda... Sem parar.
Como me sinto? É sempre a mesma coisa, sobre a mesma coisa.
Vivo, viva, vivo. 24 horas por dia, 365 dias por ano. 9 meses. Grande tempo? 9 meses e roda, sempre em volta da mesma roda.
Horizontes se abrem e voltam a se fechar. E penso em você... E pensando em você eles voltam a se abrir, de repente para uma nova direção?
Sinto! O que penso, desejo... Desejo de ti. Que me carregue daqui e junto todas as más lembranças que instalou em mim.
Afundo, afundo, afundo...
Ah!
Me puxo de volta.
Te enterro.
Vou acender uma vela, rezar para teu desencarno. Mas você surge translúcido, vestido de branco.
E me traz promessas e juras de amor, todo sentimento que há em teu peito e tua respiração latente, nervosa.
Estou calma. Ou talvez absorta. Pode ser também que esteja confusa.
Te enterro. Te velo. Choro sobre ti.
Depois rezo aos céus que reencarne e se materialize para mim, de novo...
Novo... O perfume é o mesmo antigo. O toque já conheço, os teus sonhos e desejos. E mesmo assim tudo é tão novo. E arde, com calma precisa de quem te quer e ao mesmo tempo anseia o mundo.
Vasto mundo, em que nos encontramos. Eu, você e todos aqueles que amamos.
Vem.
Quero viver o que posso, enquanto posso, enquanto vivo.
Vivo, viva estou, e desejo teu cheiro, tua carne, tua companhia.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ponto.

É difícil apagar todos os resquícios de você.
Te tirar das minhas paredes, do meu quarto, da minha cama, da água quente que escorre em meu corpo, da minha boca, do meu toque, do meu prazer. Do meu sofrer.
Teu cheiro fica na memória e me faz falta.
A minha cabeça está cansada de pensar, meus olhos cansados de remar nas profundas águas que me trouxeste. Fico ali, flutuando, abstraída.
Sinto tanto a tua falta.
Ausência estranha... Não me corrói, mas me deixa absorta.
Não encontro mais soluções.
Não escolhi ter de não te querer mais. Deixar de amar por não livre arbítrio é exaustivo, tarefa sem propósito.
Eu sinto tanto a tua falta, eu te queria ao meu lado.
Te queria e não queria.
Se estivesse ao meu lado eu não imagino a profundidade do abismo em que estaria me atirando.
Eu estou caindo, caindo, caindo... e não há quem me puxe de volta.
A razão tem capacidade de fazer escolhas, mas o coração chora mais alto.



domingo, 25 de dezembro de 2011

Suavidade

Hei hei.
Nesse dia de Natal venho postar um trabalho que realizei, juntamente com meu amigo Guilherme, para a disciplina optativa de vídeo arte e vídeo instalação.
Durante as aulas foram apresentados uma sequência de trabalhos, alguns me incomodoram bastante por serem um tanto grotescas. Foi aí que pensei que gostaria de trabalhar com a sensação do prazer, produzir alguma coisa que fosse prazerosa de assistir, mas não sabia como realizar a ideia.
Já o Guilherme comentou que gostaria de fazer um vídeo com dança, mas que não tinha nenhuma justificativa ou conceito para realizá-lo e propôs que uníssemos as duas coisas. 
Conseguimos três estudantes de dança que pediram que lhe enviássemos uma frase pra tomar como ponto de partida pra desenvolver o trabalho.Remexendo em algumas anotações encontrei uma frase que demorei anos para entender de verdade: " A arte é uma forma refinada de explorar o tempo-espaço". Pensei que ela pudesse ter alguma conexão com aquilo que gostaríamos de trabalhar.
Discutindo a relação entre tempo, espaço e prazer o Guilherme disse uma frase que se tornou o ponto de partida: ""o prazer é em si uma forma de dilatação do tempo". Então concluímos que bastava criar um vídeo que fosse gostoso de se assistir, apenas isso.
Segue o link com o resultado final:

http://vimeo.com/33493391

Proponho que se assista com o som bem alto em um quarto escuro, já que trata-se de uma vídeo arte que deveria ser exibida nessas condições.

Abaixo duas fotos (primeira e última) que tirei do dia da gravação e um still (a imagem do meio) feito pelo Gui :








Um feliz natal para todo mundo!


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Mas seu coração é a forma de contar a história

Venho hoje postar um texto que escrevi juntamente com a Naiara Lima, para uma cena da peça que montamos em 2008, chamada Fios da Vida - Mas seu coração é a forma de contar a história, com direção de Fátima Monis.
Na cena, eu (personagem 2) e a Andréia Artillia (personagem 1)  estávamos amarradas em cordões, como marionetes, e éramos manipuladas. Na frente do palco, três parcas tricotavam o fio da vida.


Personagem 1: Porque Deus criou o mundo em seis dias.
Personagem 2: Eu fui gerada em oito meses, nasci prematura.
P. 1: Vinte e uma horas demorei para entender que na verdade a semana começa no domingo. Toda semana, mês, ano, cria a ilusão da chance de se começar tudo de novo.
P.2: Com cinco anos eu ganhei uma irmã. Com seis anos eu ganhei dois irmãos, mas com dez anos... Eu ganhei dois pares de meia e uma bicicleta!
P. 1 e 2: Com vinte e um anos eu conheci meu grande amor!
P. 2: Pedi pra me amar baixinho, em silêncio, como uma brisa que provoca arrepio.
P. 1: Queria gritar aos quatro ventos: EU TE AMO!
P. 2: E dessa maneira nosso amor foi mais suave, frio, distante, mas duradouro.
P. 1: Chegou sem hora marcada, incendiou minha vida, me fez voar! Jurei a todas as pessoas e a todos os santos que aquele amor seria eterno. Durou mais dois verões.
P. 1 e 2: Agora que cheguei até aqui consigo perceber, não apenas com a simplicidade de uma criança, mas com sua própria alma, as linhas que segui.
P. 1: Com vinte e três eu terminei com meu primeiro amor, para poder ficar com uma outra pessoa.
P. 2: Com vinte e quatro eu comecei a fumar. Quarenta e sete anos foi a idade que minha mãe morreu. Decidi parar de fumar.
P. 1: Sempre tive medo de chegar aos quarenta...
P. 2: Tinha medo da mudança. Sempre preferi a rotina.
P. 1 e 2: Com vinte e cinco eu engravidei!
P. 2: Depois de seis semana perdi o bebê.
P. 1: Depois de oito meses ganhei meu presente.
(puxada mais forte dos cordões)
P. 1: Porque Deus criou o mundo em seis dias e descansou no final.
P. 2: Porque Deus criou o mundo em seis dias e descansou no final.
P. 1: Com vinte e cinco eu senti o melhor e maior amor que já conheci.
P. 2: Com vinte e cinco eu senti a pior e maior dor que já conheci.
P. 1: Com vinte e oito eu percebi que meu primeiro amor era pra ser meu eterno amor. Com trinta eu senti uma mistura de angústia e felicidade ao reencontrá-lo.
P. 2: Com trinta eu me senti completamente sozinha.
P. 1: Comecei a trabalhar.
P. 2: Larguei meu emprego.
(ambas riem)
P. 2: Comecei a trabalhar.
P. 1: Larguei meu emprego.
P. 1 e 2: (nas pontas dos pés) Agora vejo tudo do alto, pronta para saltar! ESTOU PRONTA PARA SALTAR!
P. 1: Procurei minha felicidade em todos os detalhes da minha vida, como quem tem sede de vida.
P. 1 e 2: Arrisquei muita coisa...
P. 2: Menos a minha própria felicidade.
P. 1 e 2: Acreditei em tudo o que me diziam e em tudo que eu mesma inventei.
P. 1: Agora estou aqui.
P. 2: Agora estou aqui.
P. 1 e 2: Você me ouve?
(se enroscando nos cordões)
P. 1: Passei por crise emocional.
P. 2: Perdi meu pai.
P. 1: Mudei de emprego.
P. 2: Comprei um cachorro.
P. 1: Formei minha filha.
P. 2: Morei sozinha.
P. 1: Viajei.
P. 2: Me tornei avó.
P. 1: Doei um órgão.
P. 1 e 2: Descobri novas formas de amar.
P. 1: Perdi meu único amor.
P. 1 e 2: Quase construí um zoológico em casa!
(Parcas fazem crochê rápido. Novamente as personagens ficam nas pontas dos pés)
P. 1 e 2: Agora vejo tudo do alto, pronta para saltar! ESTOU PRONTA PARA SALTAR!
(Black out nas personagens. Luz nas parcas)
P. 1: Talvez eu tenha feito algumas escolhas erradas...
P. 2: Acho que fiz algumas escolhas certas...
P. 1: Mas de qualquer modo...
P. 2: Todos os fios serão cortados.
(Parcas cortam o fio)
P. 1 e 2: Onde posso te encontrar?


cartaz do espetáculo

ensaio da cena